a bahia é uma nação

filosófica, psicológica…

Eu sempre tive muita dificuldade com aqueles filmes americanos que acham que espiritismo é um esquema pra arrancar dinheiro dos incautos. Sempre pensei que era coisa de americano esse negócio de não entender os espíritos, não entender o que tem de espiritual, de religioso nos “fantasmas”. Aliás nem consigo pensar em espírito como fantasma.

Aliás, um parêntese:Eu escrevo mal,mas gosto de escrever. Esse aqui é meu espaço rascunho, onde eu tento organizar  o que eu penso e aprender a escrever melhor.Nesse assunto, então, eu sou um pote até aqui de confusão.Como dizem minhas amigas descoladas (não sei se cool tem plural, acho inglês muito confuso), coerência: tem mas acabou.

Então eu descubro que eu é que sou diferente e estranha porque moro na Bahia.Na Bahia todo mundo acredita em reencarnação, mesmo não sendo espírita.E todo mundo toma passe, até os evangélicos (por via das dúvidas).Todo mundo conhece os santos do candomblé e já foi ao menos num batuque.na Bahia todo mundo escuta de verdade e pergunta, nem que seja por educação.

Estava eu na casa da vizinha roubando wi-fi e tomando café com bolo (porque na casa da vizinha só se tira a mesa do café pra botar a do almoço) quando chegaram as Testemunhas de Jeová. A vizinha chamou pra sala e mandou sentar no sofá.Aqui no meu bairro vc sabe se é bem vindo, de casa, íntimo, se lhe chamarem pra mesa da cozinha. Visita de cerimônia e gente chata senta no sofá da sala.

E o papo estava animado, conversaram muito (e eu na cozinha tuitando) rezaram e as moléres se foram,deixando os já proverbiais folhetos e jornaizinhos. Aí evém a vizinha: “Que P.., pensei que não iam mais embora, tenha paciência, eu com tanta coisa pra fazer!” .kkk.

Outro dia conversando com outra amiga perguntei se uma senhora da vizinhança, que sempre conheci como muito católica, estava frequentando centro espírita. “Espírita nada, é umbanda mesmo!” Nada contra a Umbanda, só que aqui a gente chama centro espírita o kardecista e Umbanda de Umbanda (acho, reclamações nos comentários ou email). “Mas ela ainda é católica,só que lá no centro ela se sente mais acolhida, mais acarinhada, compreendida.”

Eu acho que esse post já se desviou do seu propósito original,mas vá lá…

O negócio são meus filhos reclamando que eu não discuto o suficiente, que não debato, que sou tolerante, que não procuro estabelecer a verdade. Acho que é mesmo. Eu evito confrontos, acho que essa vida na Bahia não me preparou pra discussões filosóficas. Não sei discutir a existência de Deus ou os princípios científicos da Homeopatia. Me dá preguiça explicar Psicanálise ou Astrologia pra alguém que claramente as considera picaretagens.

Eu achava que a bagaça tinha acontecido de tanto tentar explicar parto em casa, amamentação, não usar chupeta, etc. Mas não, é uma coisa da Bahia. Eu falo que pari em casa e o povo em volta olha espantado mas daqui a pouco está sorrindo, perguntando detalhes, comentando “que coragem!”. Não mudei a vida de ninguém, mas ninguém vai olhar na minha cara e me xingar de maluca nem me fazer uma preleção sobre como eu arrisquei a vida dos meus filhos. Pelo menos não na minha cara.

E eu desenvolvi um método. Eu falo uma coisa. Se alguém perguntar,eu respondo, se houver interesse, eu continuo. Mas se eu sentir que tem agressividade, eu caio fora. Outro dia, por conta da reação de uma pessoa a alguma coisa que surgiu na conversa, uma senhora me contava da teoria dela sobre religião. Que nem religião muda as pessoas, que só mostra quem elas são por dentro. Então tem gente de todo tipo em toda religião (e fora também,mas o assunto era pessoas religiosas). E que a religião dos filhos dependia mais do tipo de religiosos que eram os pais do que da religião em si. Isso pra justificar um ateísmo super agressivo de uma pessoa que só queria desqualificar qualquer sentimento religioso. Quase uma Testemunha de Jeová ou um mórmon em insistência.E aquele silêncio constrangido dos presentes. E aí a velhinha me sai com essa, tipo ateísmo é rebeldia a pais incompetentes religiosamente. Sei lá. Só tô contando. Foi a velhinha quem disse. Mas o cara parou de chatear.

Sei que o povo aqui ouve educadamente e depois faz o que quer.

 

Desejo

E aí teve muita discussão sobre se a mulher tem escolha, se ser dona de casa é uma escolha, se a dependência financeira não tira a escolha da mulher. (já sei, tem escolha demais)

Eu queria dizer que esse post é sobre desejo. Eu nunca cogitei ficar sem trabalhar e quando fiquei desempregada a angústia me deixou doente.

Porque o que eu estava pensando era mais no desejo, na liberdade de desejar diferente, de não desejar ter uma carreira, ser uma pessoa poderosa ou importante. De, em alguns momentos da nossa vida, desejar ser só mãe. Como isso é visto preconceituosamente pelos nossos pares, aquelas pessoas com quem você conversa, discute, sai.
Eu trabalhava “porque precisava”, porque o meu desejo não era o de estar ali. Mas veja, se eu dissesse “estou nesse emprego porque preciso, mas na verdade eu quero ser CEO da Microsoft” ninguém teria me olhado como se eu fosse um ET. Até se eu dissesse que queria mesmo era morar em Arraial D’ajuda e criar galinha, o povo teria dito “nossa, que coragem” e ponto. Mas desejo de ficar em casa com os filhos, ah, isso é para fracos.
 Eu não falo de ser dona de casa, nem de não trabalhar ou ser sustentada por marido (argh) embora reconheça que há casais que conseguem lidar bem com um deles não estar numa atividade economicamente rentável.
E eu, na verdade, consegui encontrar um meio. Eu queria ter encontrado isso quando o Rafa tinha um ano. Mas tem uma curva de aprendizado necessária aí também. Talvez.
Eu acho que é muito importante lutar por um modelo de trabalho menos estressante, com mais home office, com uma jornada menor, com licença-filhos para os envolvidos, eu ia dizer o casal, mas lembrei dos pluri afetivos.
Eu queria ajudar a discutir e legitimar a necessidade de estar mais com os filhos, de estar presente, pai, mãe, genitores, ou sei lá como vamos chamar daqui em diante.

Na contramão ou Reflexões sobre o dia das mães

Desde que eu li o texto sobre a maternidade como trabalho não pago que estou com algumas coisas na cabeça. Aí juntou com a  Cecília comentando sobre a atitude do ex-marido dela e hoje o texto sobre as mães empreendedoras.

Eu sempre brinco que se alguém me perguntasse aos 20 anos se eu queria ser mãe, teria escutado um sonoro NÂO! indignado.
Quando eu engravidei a primeira vez não tinha a menor intenção de ficar grávida, estava tomando pílula e tal. E eu perdi os bebês. Contrariando a mítica popular, não fiquei nem um pouquinho deprimida. Até fingi um pouco, já que era o que se esperava de mim. Mas essa gravidez indesejada teve um outro efeito, despertou a mãe em mim. Comecei a desejar muito ter um filho e como aos 20 anos a gente não mede muita consequência, engravidei. A outra gravidez também teve o efeito de me despertar para o parto natural, em casa, para o empoderamento da mulher, seu  (meu) protagonismo.
Quando eu tive o Rafael trabalhava dois turnos com pesquisa de campo, não tinha horário, dependia dos entrevistados. Tinha 2 licenças-prêmio, férias vencidas, fiquei um ano em casa como filhote, sendo neurótica, amamentando em livre demanda, exclusivamente, depois introduzindo os alimentos exatamente como estava no roteiro da pediatra. Com um ano Rafael foi paraa creche e eu de volta ao trabalho. Naquele momento eu percebi que se tinha uma profissão que eu queria seguir era a de ter filhos e criá-los. Tá, não dá, tem que produzir pro sistema capitalista, vamo lá.
Levei seis anos pra ter outro filho e mais dois pra me demitir do emprego público (sendo um ano e meio de licença-prêmio, férias, licença maternidade, etc), amamentação em livre demanda, exclusiva, etc,etc.
Enfiada na análise, cheia de problemas de definição pessoal e profissional, doida pra ficar em casa com meus filhos, descobri a psicopedagogia, que já vinha me interessando ao lidar com a educação deles.
Desde que eles nasceram, tudo que me interessa diz respeito a eles ou a crianças como eles. Me interessavam mais os meninos quando só tinha Rafael, passei a prestar atenção nas meninas, quando tive a Melissa.
Não sei se ser mãe me define, mas é absoluta prioridade na minha vida.Meu casamento arrastou-se e terminou segundo a conveniência do que eu achava melhor pros meninos.
Aí aconteceu. Eles cresceram. E eu que passei a vida inteira meio envergonhada porque só pensava nos meus filhos, fiquei com medo da tal síndrome do ninho vazio. Mas ela não veio. Veio uma vontade muito grande de fazer e pensar outras coisas, de deixar as crianças seguirem seu caminho. Tenho feito muitos planos, mas ainda dependem muito deles, o que eles vão fazer, o que vão querer. tenho um plano A, um plano B, um plano C. Quando me perguntam, você vai se mudar pra São Paulo? Vai ficar morando na Bahia? Vai morar em casa, em apartamento. Eu digo, não sei, depende dos meninos. A única coisa que eu decidi é que eles vão decidir, e eu vou decidir a partir da decisão deles.
E aí vem o motivo do título. Sou feminista desde uns oito ou nove anos, quando me revoltei com o papel secundário que Narizinho ocupava no Sítio do Picapau Amarelo. Por que Narizinho não ia pra escola? Não ia nas aventuras com Emília e Pedrinho? Só ficava cuidando da avó?
E eu tinha muitos planos de sucesso e carreira que sumiram quando eu decidi ser mãe. Não me interessavam mais aquelas coisas absolutamente e eu tive muita dificuldade com isso. Não perdi minha inteligência, nem meu interesse por livros e coisas que aconteciam, não deixei de querer ver os amigos, de tomar umas, de jantar, de passear ou viajar, mas as pessoas, homens e mulheres e meu marido incluso, passaram a me tratar como se eu tivesse uma doença mental. Se eu dizia “trabalho porque preciso” parecia que eu estava dizendo “sou uma parasita e desejo viver às custas da sociedade (ou do marido)”. Tudo porque era mais barato pagar a babá ou a creche do que eu fazer o mesmo trabalho.
Quando eu finalmente descobri um trabalho que eu gostava de fazer, estava desempregada e tinha um marido não muito compreensivo com meus dilemas, então comecei a dar aula particular em casa pra pagar o curso. Quando terminei decidi montar o consultório na sala da minha casa onde eu dava aula,mesmo não sendo um endereço chique. Optei por um modo de trabalhar que rende menos, comparativamente ao possível, mas me deu mais oportunidade de continuar lambendo a cria.
Me recusei terminantemente ser mulher-maravilha, mulher-polvo, super-mãe. Perdi muitos amigos “antenados e descolados”  com isso.  Tive vontade de comprar coisas pros meus filhos e não pude, de fazer viagens que eram muito caras, vi decepção nos rostinhos deles e quis ter pego o outro caminho muitas vezes. Mas todas as vezes que botei na balança, acho que tomei as decisões certas, ou as possíveis. Não é nenhuma verdade universal, nenhuma panaceia. Foi só o meu caminho.

nerd

eu sou nerd-ninja-informatica-do-linux como diz uma amiga.

você sabe o que é compilar? eu também não sei direito mas outro dia eu compilei 😉

instalo, desisntalo, formato, particiono, etc, etc.

mas sou lerdíssima em post de blog. mal consigo botar link. um dia desses deletei um post e parece que saiu algum sem título. Se vcs derem por falta de alguma coisa avisem aí, perlamore.

 

 

 

 

 

cisne machista

jura que vocês gostaram  DAQUILO?!!

Bem, eu não gostei. Assisti porque todo mundo resolveu falar e comentar e contar spoiler (pode contar spoiler? essas construções interlinguas me confundem) mas eu já achava que não ia gostar, porque balé=gentemagrabulímica=gentequesesuperapelosucesso.

É igual a filme de boxe, mas os de boxe eu não gosto por causa de soco no nariz. Quando quebra o nariz e sai aquela montoeira de sangue e eu escuto as cartilagens quebrarem, dói no meu cóccix, que é o lugar onde me doem mais as dores.

Mas filme de balé geralmente é sobre vencer a dor, a adversidade, superar limites e mais um monte de baboseiras que ficam estimulando as pessoas a serem bulímicas e tentarem fazer coisas com o corpo que desafiam as lei da física e provavelmente terminam em fraturas violentas.

Mas esse eu achei pior. O filme não é um cocô, o pior é isso. Ele é bem dirigido. Eu vou acabar vendo o Vencedor (Mel me avisa que ele não dirige, só produz). Bem, mas é um filme bem dirigido, lindo visualmente…. MAS QUE COLEÇÂO DE CLICHÊS DA PORRA!

Eu estou na dúvida se é a maior coleção de clichês que eu já vi ou se é todo um enorme clichê. Quanta superficialidade! Aí eu fui conversar com a minha assessora para assuntos de mídia e futura cieneasta e ela decretou duas coisas: roteiro ruim e machista. E eu vinha naquela ideia de que era clichê e superficial e não me toquei que os clichês são quase todos femininos (menos o diretor que come a bailarina pra despertar o talento artístico, onde eu vi isso?momento de decisão?) A mãe dominadora e castradora, a bailarinazinha pura, frígida e reprimida, a rival puta , instintiva, selvagem e drogada, a bailairina decadente e amarga (e apaixonada pelo diretor) o homem gostoso (e francês) objeto de todos os desejos. Todos os papéis femininos são estereotipados.

Sem falar que a revelação da arte através do sexo como  motor do talento instintivo é mais batido que diretor comendo estrela,.né?

Mas o que me deixou puta foi a indecisão. O filme podia ter focado no sexo, podia ter focado na relação mãe-filha, podia ter focado na rivalidade e aproveitado o diretor gostoso, mas tudo é uma quebra-cabeça, um espelho quebrado.  A única coisa que faz sentido é a loucura da bailarina, a agravação da patologia mental dela, nesse sentido todo o quebra cabeça, todos os elementos externos são só isso, pedaços da loucura dela que vai aumentando até que ela descobre que a perfeição é igual à morte.

Mas isso também não faz sentido, a não ser que você veja todo o resto como distração, porque o cenário não faz sentido nem na loucura dela, é só uma desculpa pras cenas plásticas e bonitas, pro diretor deitar e rolar. Eu acho que o diretor pensou,o roteiro é ruim, ninguém salva, esqueçamos e dele e vamos fazer um filme bonito de loucura com balé…

tá difícil.

eu até entendo, porque eu quando tenho enxaqueca fico completamente louca e enquanto não tomo um remédio de efeito imediato não adianta falar comigo. quando eu tinha cólica não conseguia nem pensar.

filho doente, então, é de matar.

daí eu entendo que ritalina seja uma solução muito prática. é que nem antibiótico. você que não usa SUS e é contra a homeopatia pergunte pra sua empregada, ou pra qualquer pessoa que não possa pagar um plano de saúde quantas vezes ela levou o filho ao médico e não voltou com receita de antibiótico.(Filho doente, claro, não vale consulta periódica ao pediatra). As mães da minha comunidade têm inclusive um ranking : doutor fulano passa remédio X, dra sicrana, remédio Y ou se estiver com febre, Y e Z. (todos antibióticos).

Uma vez levei uma pessoa do interior ao posto e perguntei à médica, mas é só um resfriado, um xarope e um antifebril não resolviam? a médica me respondeu que “esse povo” às vezes não trazia a criança para revisão, então se o quadro evoluísse para uma infecção a criança poderia morrer, então preventivamente já dava o antibiótico. Tipo ela pode ter câncer, então vamos começar a químio desde já…

Mas meu problema atual é a ritalina. Médicos que sempre foram contra o uso indiscriminado da ritalina estão cedendo à pressão dos pais, que preferem envenenar as crianças com a droga que lidar com o fracasso escolar, com a dificuldade de aprendizagem. Porque sem o remédio a aprendizagem é lenta, o tratamento é caro, exige uma enorme dedicação dos pais, uma boa escola. O remédio é como um antibiótico de largo espectro, desses usados pra tratar infecções com bactérias resistentes sendo usado pra uma gripe ou uma dor de barriga. Acaba com rins, fígado, flora intestinal. Mas mata a bactéria, no caso a desatenção, a falta de concentração, a rebeldia.

Outro dia uma mãe me disse que o médico justificou o uso do remédio “muitos advogados estão tomando”. triste. meus amigos cheiravam cocaína pra criar, principalmente os publicitários. agora usam ritalina. e rivotril. Criativos. Concentrados. Felizes. Todo mundo agora é bipolar. Ritalina e Rivotril.

pessoas que gostam de animais

eu não sou uma pessoa-gato. na verdade eu detesto gatos. Não ideologicamente, não tenho vontade de sair exterminando os gatos do mundo, mas eles me incomodam. Outro dia li em algum lugar que para gostar de gatos você precisa ter um. Desculpe. NÂO. Eu tenho alergia a gatos, mas suspeito  que isso seja mais psicológico que físico. Eu tenho muitas amigas que amam gatos e já fui até capaz de permanecer dias em casas que tinham habitantes felinos sem que eles me incomodassem.

Ontem estava pensando que parte dessa minha implicância vem do fato de eu ser uma pessoa-pássaros-em-liberdade. Na verdade esse post começou porque eu via um filme sobre uma pessoa que tinha uma enorme jibóia de estimação. Americanos são meio fascinados por jibóias, que eles chamam de anacondas, né? E lagartos. Bem, eu também adoro lagartos, que aqui chama calango, mas nunca pensei em botar nenhum na jaula, eles moram no jardim. Então, eu sou capaz de entender vários bichos de estimação, mas pra mim o essencial pra ser caracterizado assim é a capacidade do bicho de ser convencido a permanecer no local , na sua casa, por vontade própria, sem que precise ser algemado pra isso. Pássaros não se incluem. Minha filha diria que é porque pássaros são burros, não tẽm cérebro. Minha filha incomoda-se muitíssimo com pássaros  que entram aqui em casa e depois não conseguem sair, ficam dando cabeçadas nas paredes e janelas e matando a  gente de susto e de pena. Eu diria que o cérebro deles, minúsculo, está totalmente ocupado com três ideias: voar, comer, ter filhos. Não cabe mais nada.Bem, então como eu gosto de pássaros voando, não gosto de gatos-que -espreitam-pássaros. Embora jé tenha tido cachorros que espreitavam pássaros também. Mas sei lá, espreitavam menos, só quando estavam entediados.Eu tive um cachorro que se divertia provocando ataque cardíaco nas galinhas. Mas ele se divertia tanto que conseguia fazer com que eu não tivesse pena nenhuma das pobres galináceas. Outro caçava sapo. E me dava um trabalhão depois pra lavar o focinho e escovar os dentes do veneno do sapo. Sem falar que eu gostava de sapos.

Mas então, eu gosto de cachorros.Mas não sou partidária de cachorros dividindo o espaço doméstico. Cachorros precisam de grama e de terra, de fazer cocô onde desejam e não de ter que andar pra cagar. E gato tem isso, né? É bicho de casa. Bem,eu não tenho animais domésticos, só passarinhos na árvore e calangos no jardim. Aliás, tenho lagartixas dentro de casa, mas essas eu mal vejo a sombra passar quando acendo a luz da cozinha.Minha filha diz que tem uma que acha que se ela ficar totalmente imóvel vai ficar invisível, então precisa apagar a luz de novo pra ela sair do meio do caminho (já viu que minha filha tem medo de lagartixas,  né?)

notas

Eu continuo achando que colocar notas explicativas e introdutórias em livros de quem quer que seja é chato e inútil. Se tem uma coisa que eu detestava naquelas edições escolares de Machado de Assis e José de Alencar eram as tais notinhas. Mas me preocupa mais a inutilidade que a chatice. Quer botar notinhas, bote, mas se isso não vier acompanhado de uma campanha intensa contra o racismo, uma discussão com professores e alunos sobre Obra Literária, Racismo e Auto Estima, por exemplo, não vai adiantar de nada. E eu sei do que estou falando, pode acreditar.

Eu sou viciada em enlatado americano desde que era assim que a gente chamava enlatado americano. Assistia Panteras, Hawai 5-0, Baretta, affe, tudo que você imaginar! Mas sempre assisti meio envergonhada de admitir e com plena consciência de que (achava eu ) era tudo pura tosquice ridícula. Vai que virou moda e agora vejo gente discutindo seriado como se fosse filme! Falando de teorias sobre o mundo real!!! Ãhnn? Onde foi que eu vim parar? Como era mesmo o nome daquele cara que dorme anos e quando acorda fica pensando “que mundo é esse?”.

Esse é meio meu problema com BBB e Troca de Família é exatamente o contrário. Por que eu vou assistir uma espetáculo com tudo que há de pior na realidade brasileira? Por que eu vou ficar vendo gente tosca real na tv quando é só isso que eu vejo todo dia  no mundo real? Será que as pessoas precisam disso pra se sentirem melhores? Pra pensar  eu não sou tão tosco assim?

Aí você vê gente que parecia bacana fazendo tosquice, sendo ogra e diz “nossa, ela escreve bem, eu gosto tanto dela, mas ela é tosca também” e isso faz de você o quê? uma escritora? Uma cantora? Não, você continua você, ela continua sendo tosca e escrevendo bem, mas agora você sabe “aquilo” sobre ela.

Aí eu vejo todo mundo discutindo a vida alheia, quem dormiu com o marido de quem, quem arruma a casa melhor, quem é melhor mãe e quem é feia (por dentro e por fora). E só penso nessa nossa imensa e coletiva carência afetiva, de expor vidas pessoais em público, de espiar a vida pessoal das pessoas que se expuseram e de ficar comentando isso e se sentindo superior.

Queria ressaltar que não me sinto mais inteligente ou superior por não gostar dessas coisas. Gosto de tosquice e de fofoca como todo mundo, mas (tá, me sinto mais evoluída um pouquinho) tô me achando por pelo menos reconhecer  isso.

Como eu sou mãe solteira e o pai dos meus filhos não se envolvia com o dia a dia deles nem quando éramos casados, não sou muito parâmetro nessa de dividir responsabilidade e culpa, ambas são só minhas desde sempre. Mas isso é circunstancial, eu acredito em repartir. Veja, repartir não é delegar. Tem gente que confunde divisão de tarefas com organização indígena (cacique e índio). “eu lavo prato e vc arruma a casa” “eu pego na escola e vc  leva no balé”.

Eu acho que a verdadeira inimiga da mulher é a culpa.

Eu acho que tenho que voltar a tudo isso depois, mas dá uma pregui…

 

ciência para quem precisa de ciência

Como eu já disse, eu fui amamentada porque minha avó não acreditava em ciência. Quando eu era criança a moda era matar aula (aqui chamava “filar” aula) e ir ao museu do IML, que se chama Nina Rodrigues, ver as cabeças encolhidas de Lampião e Maria Bonita. Nina Rodrigues, vocês sabem, era cientista, discípulo de Lombroso. Eu aprendi a ler pelo método “Casinha Feliz”, moderno e científico, tinha Vavá, Vevé, Vivi, Vovó e Vovô. Tinha Uva também e o R era um Rato. O S acho que era uma cobra, ou melhor, SSSerpente. Não tenho certeza, eu adorava aquilo, mas já sabia ler, só fingia pra pró não ficar triste e pra ganhar elogios e presentes. Meu pai aos 40 estava com pressão e colesterol altos demais e o médico passou uma dieta que envolvia trocar manteiga por margarina, não comer ovo, feijoada, diminuir o sal e parar de tomar café. Meu compadre trouxe água de alevante e mandou tomar duas vezes na semana, um copinho só “pra não comprometer a sustança masculina”. No dia do exame de motorista meu pai tomou dois copinhos, “pressão 12 por 8, seu Cumprido” disse ele depois. Ah, Cumprido era meu compadre.

Aos 18 fui a um Iridologista.Saí encantada. Meu pai, cético, ateu e filho de médico, ainda lutava com o colesterol, que a água de alevante controlava mas não podia ficar sem que subia de novo. Foi resmungando. Saiu de boca aberta com o médico que disse até se ele teve cachumba, sarampo ou catapora. De noite ele ligou pra minha avó pra confirmar. Eu nem sei o que o médico passou pra ele. Envolvia aquela porcaria horrível da Espinheira que de Divina não tem nada (mentira, maldade, é Divina sim, mas o gosto é horrível mesmo) o médico tinha uma predileção por lavagens intestinais, espinheira divina e fome.

Não aguentei. Eu sou auto indulgente com comida. Acredito em comer. Manteiga, Café.Não acredito em ciência. Não mais do que acredito em astrologia, homeopatia, Tarô, Psicanálise, Reiki. Não gosto de antibiótico, me deixa com ressaca, mijando amarelo e quente. Gosto de própolis, mel, alho. Uma amiga me disse que cebola e alho dificultam a meditação, a relação com o divino. Eu experimentei e achei que pode ser. Talvez um dia desses eu tente uma dieta menos condimentada pra me conectar. Talvez. Eu gosto demais de condimentos.

Eu bebia. Nada de cerveja, só destilados e fermentados (cerveja é fermentado?) bem, vinho, champagne, sidra, sacou? não gosto de cerveja. Gosto de açucar. Gosto dos venenos, açúcar, sal e farinha. E o que a gente faz com tudo isso? Come ovo? Bebe café? e cerveja?E vinho? E óleo de soja?

Toma chá? Tem princípio ativo? mata? Amamenta o filho? Faz cesariana? Cordão enrolado é motivo pra parto cirúrgico? Parto na água pode causar infecção? Natação pra criança com menos de seis meses dá infecção no ouvido? Mel antes de um ano pode transmitir doença? Ferver Mel é bom? E o dr Rinaldo De Lamare ainda presta pra alguma coisa?

Dar coca cola pra bebê com diarreia é bom? foi o médico que mandou. E antibiótico pra dor de ouvido causada por água da piscina? E azeite quente no ouvido? Gente gorda tem DDA? Mulheres tem cérebro menor que o dos homens? Cérebro menor é melhor? O homem veio do macaco? Da serpente? Da lama? Quem descobriu o vírus do HIV foi o americano ou o francês? E quem inventou a AIDS foram os Belgas do Congo? Homens pensam mais em sexo que mulheres? Mulheres pensam mais mas não confessam nem sob tortura?

Eu hoje tive uma crise de rinite alérgica, febre, sinusite. Tomei Thora, Doranicum, Ostréa-edulis, gargarejei e usei souci no nariz. dormi a tarde toda e acordei boinha. Aí vim aqui e escrevi.

a favor da homeopatia

eu nem devia estar escrevendo hoje. porque eu tô muito zangada, e muito zangada a gente diz o que não quer dizer, xinga quem não devia xingar, fala besteira, ofende de graça. e eu na verdade não sou médica, não tenho conhecimento científico e nem sequer sou uma boa polemista, dessas que citam autores como apoio. só o que eu posso oferecer é a minha experiência e a das pessoas com quem eu convivo. mas o motivo da minha zanga é ver tanta gente boa saindo do seu conforto pra tentar estragar a vida dos outros.

a homeopatia foi uma coisa maravilhosa na minha vida. eu sou uma menina dos anos sessenta. minha mãe conta que quando me pariu não queria parto normal, mas o médico era “das antigas” e não concordou. ela também não queria amamentar, já que havia lido que o leite em pó era muito mais apropriado paraas crianças, manipulado artificialmente (artificialmente nos anos sessenta era uma boa palavra) para conter todas as vitaminas necessárias às crianças, mas ela tinha muito leite e minha avó não deixou ela não amamentar. já com minha irmã foi diferente, ela ainda teve parto normal (parece que era ótima parideira e a criança nasceu antes que o médico pudesse organizar a cesária) mas ela já não ouvia minha avó e deu todo o leite artificial que queria `filha.

eu tinha muitas infecções de garganta e aí aos nove anos fiz a tal cirurgia que era moda, tirei amídalas e adenóides. A partir daí virei uma vítima da rinite alérgica, acordava espirrando, vivia resfriada, com nariz entupido, sinusite. Tomei todas as vacinas, todos os alergênicos, fiz todos os tratamentos que apareceram. Quando o meu filho nasceu, parecia que havia herdado de mim a praga, resfriados, catarro, “canseira”, nebulizações sem fim. Foi aí que a homeopatia entrou. Meu filho ficou curado, eu fiquei curada, bem, eu mais ou menos, como eu não tenho amídalas nem adenóides, de anos em anos eu tenho uma crise, tenho que fazer o tratamento de novo (tomar os remedinhos por um mês).

Minha caçula aos trẽs anos teve febre reumática, já contei isso aqui. O que eu gosto de contar é o seguinte: eu fui ao alopata antes, eu morava no interior,onde não havia homeopatia, o médico passou cataflan enquanto saía o resultado do exame de sangue e benzetacil pra tomar no momento em que ficou confirmado o diagnóstico. Enquanto esperávamos o resultado do exame o efeito do cataflan foi diminuindo, era para tomar de seis em seis horas, mas a febre começou a voltar em cinco e depois em quatro horas,assim, quando eu saí do consultório da homeopata, haviam se passado quatro horas que eu havia dado o cataflan e a minha filha estava queimando de febre, choramingando no meu colo, não pisava no chão porque as pernas doíam, cheia de manchas vermelhas pelo corpo. Quando saímos da farmácia homeopática, eu nem esperei chegar em casa, fiz meu marido comprar uma água mineral e dei o remédio ali mesmo na rua, antes de entrar no carro. Vinte minutos depois, quando paramos o carro na frente da casa da minha sogra, minha filha, já sem febre, pulou do meu colo e saiu correndo com o irmão. não teve mais febre, nem manchas, nem dor nas pernas. Os exames não dão mais nada.

A empregada da minha vizinha há anos reclama da asma do filho, do preço dos remédios, dos dias perdidos de trabalho. Ano passado eu soube que ia ter homeopatia no posto de saúde do bairro e contei pra ela. Ela me olhou meio torto, mas eu disse “os remédios são mais baratos, eu compro de 14 reais cada e duram mais de um ano”. Isso a convenceu, ela foi. Mês passado ela me trouxe um pedaço de bolo de agradecimento. Seis meses sem nebulização, sem corrida pra emergência, a economia de remédio e táxi foi no presente de natal do menino, a patroa aumentou o salário dela pela assiduidade.

A enfermeira do posto, que me contou que iam ter homeopatia lá, não acredita na especialidade, acha crendice, água com açúcar, psicológico, mas sabe reconhecer os benefícios. Acha que é a médica, que é mais humana, que ouve as mães, que conversa sobre os filhos e que isso as conforta. Me falou que diminuiu a quantidade de crianças em crise, tem mais pra consulta que pra emergência, com febre, passando mal. mas que está começando a ter demanda de outros bairros, gente que não mora por aqui e dá endereço de algum amigo ou parente só pra se consultar com a médica. Que um dia desses a pediatra não tinha pacientes, saiu do consultório, viu a sala de espera cheia de crianças, perguntou o porquê daquilo e ouviu que era para a homeopata….

Então não me venham falar do SUS. Quem está fazendo esse protesto nunca precisou do SUS na vida, não sabe o que é correr pruma emergência de hospital público com o filho com febre, não sabe o que é dar um remédio que ataca o fígado e estraga os dentes da criança pra sempre. Médico de hospital público receita antibiótico pra tudo, pra qualquer febre que eles não saibam de onde vem. No que isso pode ser melhor que a a homeopatia?

Lembro como o médico que me atendeu uma vez falava com desprezo dos “chazinhos” como se fosse um tipo de mágica ruim. Ou como o meu ortopedista reagiu quando eu disse que não ia operar o joelho e sim fazer acupuntura.

Pode ser que a ciência precise de mais cem anos pra reconhecer a homeopatia e eu gostaria que as crianças pobres do Brasil  não precisassem esperar até lá.